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terça-feira, 31 de agosto de 2010

SINESTESIAS DE OUTONO


Os corpos ainda guardam memórias dos dias quentes e límpidos do Verão!O dia convida a uma ida furtiva à praia que convida ao relaxe e despreendimento. A liberdade é intrínseca ao ser Humano. E a toda a vida que pulula na Terra!
Só que o Homem não pode ser tão livre assim...Tem deveres...
...mas eis que as núvens tecem-se com os seus caprichos - quem não perdeu horas a olhar imagens brancas deambulando pelos céus?... - e o dia cansa-se do sol e procura refrescar-se...
E as núvens ameaçam, e a brisa puxa o calor húmido...
Em breve, a electricidade começa a falar e ecoa um trovão.
Começam a cair pingas grossas avisando que o fim do verão se aproxima. E começa a sentir-se aquele cheiro inconfundível a terra molhada, ainda aberta com os sulcos de um calor tórrido como que a pedir clemência por um pouco de água! Mas ninguém vê os sulcos. Vêem as flores e a relva molhada. E a terra fica eternamente à espera destas gotas de chuva porque só a Natureza a compreende!
E o ar quente convida a passear "o bronze", porque tem que valer a pena o sacrifício de ser sardão...
E as pessoas passam indiferentes a estas pingas, correndo sempre para ver se ainda apanham o verão...
E o Outono vem pé ante pé numa calma estranha em cumplicidade com a sua nostalgia!
E faz-se sentir pelas tardes inegualáveis dum misticismo único. Pelas manhãs calmas num acordar doce. Pelas noites cálidas que nos convida a uma indolência...feliz
E tudo tem o seu encanto.

Porque fim...é renovação!





segunda-feira, 23 de agosto de 2010

PALÁCIOS SÓS


Palácio!

Palavra mágica que nos transporta para o fundo do tempo onde ser rei era ser deus.Onde as princesas de beleza imaculada viviam rodeadas de desvelos tais que só passeavam sedas e formusura.E também tristeza e solidão! O seu príncipe era feito de conveniência e corrupção.Não de amor de encantamento!
Mas o fausto não era do reino da magia nem do sonho. Estava lá! Os "outros" limitavam-se a olhar e com admiração, submissão...
Mas porquê esta reflexão?
As férias são tempo de disponibilidade, procura de lugares novos. Não são só para travar o relógio e pasmar-que também é óptimo... Mas passado este hiato de tempo quis sonhar e nada melhor que um...palácio!
Atravessei o espaço e o tempo e eis-me defronte à pousada-palácio de Estói.Lá estava ele, não com o granito austero e sombrio como os do norte, mas com a linguagem dos palácios...Foi lindo porque sonhei...
...era uma princesa, naquele dia de vestidinho branco, branco e percorria os jardins daquele palácio como se tivesse lá vivido todas a traquinices da infância , as aventuras e desamores da adolecência...
Por entre imensas colunas brancas avistava uns bancos de jardim, enfeitados com azulejos azuis olhando o regato de água que cantava mesmo ao lado! E sentei-me pensativa! Quantas memórias e segredos este canto esconde!? Quantas lágrimas de infortúnio estarão aqui sepultadas?Olhei o regato...
É tão bom, conversas à solta...
Desci a escadaria que me levava a um jardim semeado de estátuas lindas como as princesas! E olhava aquelas testemunhas mudas mas inquietantes. E havia mais bancos voltados para o jardim com contornos definidos. Quantos passeios, quantas lamentações, quantos devaneios, quantas paixões!....
Defronte, erguia-se a fachada com impacto, como convém a um palácio! E eu percorria todos os recantos como se estivesse a recordar a minha história! Longe, estendia-se o sol já cansado do dia! Também não admira, pensei, está cansado de ver palácios!
Mas ...depois veio um sentimento indefinível e indefinido...
Respirei fundo tentando aperceber-me deste estado de alma...
Olhei para trás. Já não "via "as festas com os momos e entremeses, nem príncipe nem amas...
E as colunas brancas ao alto tranformaram-se na minha mente como a única cumplicidade
que unia os dois tempos: O antes e o agora!
E voltei para o meu chá, imaginando-me uma princesa, mas limitando-me a ser eu-mesma...
E o palácio e os bancos e as estátuas ficaram sós com as suas memórias!

...E, eu voltei com as minhas!






sábado, 21 de agosto de 2010

REGRESSO


...E a Meia Praia ficou mais vazia...
Fazia vento naquela tarde. Mas era cálido, suave, leve...
Decidi olhar o mar debaixo do chapéu feito de esteira, junto à piscina!E era ver correr aquelas cascas de noz, mar fora!E o meu olhar fitava o horizonte vermelho daquela tarde e aquele mar que lavou e levou os meus pensamentos...E continuava a misturar ideias, a sonhar utopias saboreadas com umas Pedras e limão...companheiras nas horas ora secas ora turvas ora apáticas!E o sol deitou-se com a noite...
Eu deitei me com pensamentos...acordei com pensamentos que viajaram estrada fora num tempo redondo como se estivesse parado.
O sol inclemente do Alentejo regava a copa dos sobreiros pousados nos montes como estátuas verdes , não se mexendo, num incrível exemplo de humildade e aceitação!
E pareceu-me que corria estrada fora, atrás de tudo e de nada...
Mas conforme avançava, o inconsciente soltava-se das amarras do espaço e tempo, levando-me de volta ao meu mundo...
Qual mundo?
O que a minha fantasia criou, onde nasceram os sonhos e também os escolhos!
Onde pousa a "minha" história, onde pousam as memórias!
Onde repousa o meu Eu que se envolve nos lençóis do dia-a-dia...
E neste círculo quadrado, o tempo continuará a fazer história.
A dele e a minha...




quarta-feira, 18 de agosto de 2010

TODA A PRAIA


...e voltei à minha praia!
Lá estavam os corpos a pedir a "misericórdia de uma fonte" como diz Florbela Espanca.
O suor escorre... e eles deliciam-se...Estranho ou " auto-mutilação"?...Mas eu desci percorrendo a distância do açúcar que me separa do mar...e comecei pela minha caminhada como sempre, saboreando o doce salgado do mar!
...na água espelhava-se o sol e o céu cada vez mais azul. E eu embrenhei-me nesse pedaço de prazer e tive uma sensação estranha, uma recordação linda...
...senti que essa água podia ser minha mãe porque a ternura com que me abraçou, foi como se estivesse no útero materno, doce, calmo, seguro, onde nasceram as minhas primeiras células...
...e levantei-me para olhá-la nos olhos! Era um porto de abrigo longo ondeando como a dizer olá, estou aqui!
E sorri. Já não estava só. Não me senti só. Senti uma energia que vinha do mar e do céu e que se espalhava pelas águas que sorriam de onde a onde, com os reflexos do sol!
E então sentei-me como se quisesse conversar...E ouvia o meu pensamento a falar ,porque isto de falar com a água, não é para todos...
...mas imaginei conversas como se estivesse num alpendre, gostosamente...
E as horas param porque o pensamento continuava a correr!

E corri com o pensamento como um elegante cavalo bordejando pelo mar, crinas sedosas ao vento...

E parei, era urgente voltar à realidade!




MEIA PRAIA


Areia.Aridez.
O sol bate forte nos corpos sedentos de mais bronze.A areia respira um ar quente de febre que vou sentindo à medida em que os meus pés a tocam.Institivamente dirijo-me para o mar.
Água.
E o meu corpo,fugindo deste braseiro, percorre a orla sentindo o beijar doce da água mansa nos pés.E o mar fala.As ondas falam.E não sei decifrar esta linguagem. Aquieto-me e penso na água! Tão pesada e tão leve!Tão preciosa e tão pura! E a pureza baila no meu pensamento.Ser puro...é ser cirstalino. Como a água!Sem manchas. Como a água!Moldável mas sem quebrar. Como a água!
E olho aquela massa imensa de água, tentando ouvi-la!Mas fala toda ao mesmo tempo!Não a compreendo!E o meu pensamento volta-se para dentro de mim mesma! Sou água, sou vento, sou ar e o mar...
...e olho para longe...a tocar o céu! E penso: uma coisa Deus fez bem feito! Pelo menos para já ninguém lê pensamentos! E junto o mar e o céu nos meus pensamentos e escondo-me neles...
E ando...ando ...na água e converso com as ondas! E os pensamentos correm como as motas que as sulcam ...e ninguém sente, ninguém vê, ninguém sabe...
...e fica um doce sentimento de bem estar, de ternura, de aquietação...que ninguém sente ninguém vê, ninguém sabe!
...e percorro no meu silêncio esta Meia Praia, que me vai trazendo à memória recordações que já esqueci! E esqueço-me de mim e do sol que começa a bronzear e perco-me no tempo!
...e os meus olhos percorrem o horizonte. E volto a pensar! O que é o possível? E o impossível?
...e será que existe o possível e o impossível ?
...e as ondas vão batendo com as possibilidades possíveis...
...e volto as costas ao mar e às ondas porque não é possível ouvi-los!
...e conformo-me com a minha impotência de querer compreender possibilidades...
Talvez noutro mar... noutra água...

Noutro lugar!



quinta-feira, 12 de agosto de 2010

SIMPLESMENTE...ROSA


Rua quente.

Saboreio o ar condicionado enquanto espero ...

Sentada no balcão fresco, senta-se um bébé sorridente, que a mulher exibia quase que, como um adorno.Os elogios e as carícias tornam a criança ainda mais comunicativa. Teria um ano.

A mulher sorria, olhava para trás, como se aquele Ser, fosse único...Enquanto saía diz-lhe-" Diz adeus..."E aquela mãozita inocente, com gestos ainda descoordenados pela precocidade, lá se foi com o gesto no ar.E então a mãe diz"Vamos, minha rosa!"...E foi-se sorrindo, enquanto segurava a cabecita com mão de mãe, quando a colocava na cadeirinha docemente...

Simples, não?

...Mas fiquei a pensar no amor e em tudo o que esta palavra engloba: O amor não espera nada em troca, ele dá-se.O amor não espera reconhecimento, ele é humilde. O amor não fala alto, ele adora o silêncio. O amor não é solitário , ele quer abraçar o mundo.O amor não se satisfaz com pouco. Ele é imenso.E quando se dá amor...recebe-se ainda mais amor de volta!Não é mágico?

Amor.Amores.

O que importa é amar.

Se possível, sorrindo...

sábado, 7 de agosto de 2010

SOL POSTO


É da idade do primódios da Terra, mas é uma imagem que atrai o nosso olhar quando cai a tarde.
Aldeia.
Brincadeiras de crianças que acabavam quase ao anoitecer no quintal fechado!
Lembro com nostalgia o sino triste da igreja a tocar as Avé -Marias.
Eram badaladas tristes, aliadas a hitórias que a minha Rosa nos contava...
Subia as escadas de granito, ouvia distraidamente e longinquamente as conversas da família e ia
para a janela virada a poente.Ao longe, alonga-se deitado, o rio Homem, com caráter, fazendo jus ao seu nome!
Árvores recortadas num céu azul bébé...doce , manso e acolhedor!
As montanhas erguem-se suaves, emprestando um contraste a esta paisagem mas servindo de moldura a um quadro verdadeiramente perfeito e belo: o sol no seu caminhar cansado, vai-se deitando nas serras acenando com as suas cores amarelo, vermelho, laranja num até breve de alegria!
...E eu, pequenita, só, naquela janela, já conseguia admirar, fascinada a grandeza da paisagem e o Infinito que ela escondia e cuja tradução persigo e quero encontrar!
"Vamos , menina, o jantar está na mesa..."
Boa noite alegria!
Amanhã é outro dia...

Sorria...


quinta-feira, 5 de agosto de 2010

MANHÃS DE VERÃO


Todas as estações do ano têm o seu encanto.
Mas falemos do Verão!
Manhãs refrescantes que prenunciam o "castigo" do Sol...
Em Agosto a cidade está calma, adormecida convidando ao devaneio.
Percorro a Alameda com as tílias a dar os bons dias. Gosto do verde.Fortuitamente sou apanhada por pingos do torniquete que salpica a relva como um banho matinal...As pombas rebolam-se na água e espreguçam-se ao sol...
Mas mal soa um ruído estranho, ei-las, qual filme de Hitchcok, cortanto, frenéticas o ar...Áinda bem que não sou fóbica...
Mas também há os cães que ziguezagueiam, com aquela alegria de quem se sente protegido e livre embora com a trela! Belo paradoxo! Mas dá que pensar!...
E eu, comigo, vou caminhando por esta Avenida,observando os meus pensamentos numa paz interior enorme!Nem triste,nem eufórica.Só Paz!Observo os que se cruzam comigo:Olhares fundos,lábios contraídos,faces sombrias...Quanta confusâo, quanto desconforto oculto,vagabundeando assim por entre as pombas, que aproveitam o momento, às cambalhotas na água! "Olhai os lírios do campo...".Gostava de ser lírio!E enquanto existir,ter a sabedoria para saborear a vida, os amigos, a paz, a serenidade...
Assim como as pombas!E os lírios!
"O essencial, é invisível aos olhos"
Tentemos "ver" melhor !

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

LUGAR SEGURO


Todos teremos um sonho: um sítio idílico onde nos encontramos com nós próprios, que faz parte intrínseca desta sombra interior que se esconde de nós e em nós...
Todos gostamos de plantas, admiramos árvores seculares, amamos as flores e até a relva mimosa que afaga os nossos sentidos quando nos envolvemos nela nas tardes cálidas de verão...
Mas sinto um gosto especial pelas...heras! Sim as heras!Porquê? Não sei.Se sei, não sei porquê...
Há um não sei quê de mistério nesta planta!No meio de uma leitura,debaixo dum carvalho idoso(mas nobre!),ela sobe lentamente pelos ramos, enfeitando os braços descascados, emprestando-lhe uma segunda pele!Quando chega ao topo, não faz como os Kiwis, que se encarrapitam como um parasita, no suporte mais próximo...Não,ela deixa-se cair,calma e com doçura enfeitando o espaço como um candelabro, acariciando-nos quando passamos perto.Quando a brisa corre ela baloiça-se,discretamente, fazendo deste espaço, um lugar meditativo...na companhia de um sobreiro com quem tenho uma espécie de diálogo! Verdade. Para mim o Sobreiro é a imagem da personalidade e sobriedade. Ele impõe-se. Só! Ah, depois quem ama este lugar secreto e discreto? Toda a passarada! Deus, amanhecer neste lugar que me envolve, é amanhecer no paraíso!