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quarta-feira, 9 de maio de 2018

Dueto




( Um livro em dueto)
...

Gerês                                                                                                              

E  o verão?
Porque fado não o tens no coração?
Não corres a praia salgada com o açúcar na ponta dos dedos?
Acaso me queres dizer que ele não esconde  no âmago,
os teus segredos?

Ah,  agosto marinheiro
dunas sopradas aos ventos
nas tuas curvas  redondas e pálidas
esvoaçam   pensamentos em asas de  areias cálidas.

Mas maio!
Ah, maio florido interior do meu jardim
mudo e quedo
belo  e mudo
fronteira onde procuro
chamas inertes de cor na sombra de cada flor                                                                                         
onde se condensa  o orvalho  ainda mal rompe o dia                                                                                                  
nos dedos de cada teia
pérolas numa colmeia
num colar de fantasia!

E estes vestígios de luz, reflexos matinais
em alvoradas de cor
fazem  de mim a crisálida que vê em tudo o Amor.

Quisera pintar a tela numa vela
vestígios de eternidades
na quietude das malhas com que é feita a saudade
na renda das minhas muralhas.

  
 Maia


O verão?
ah,  o verão!
estação que me escalda o coração com alergias tamanhas
gretando-me a frágil pele
pulsando-me nas entranhas                                                                                    
e, então, os olhos ao rés d’ areias são como gaivotas mortas                                                                                      
levadas pelas ondas revoltas embatendo contras as rochas!

se me fosse dado ter pinceis nas pontas dos dedos
pintaria Maio, sim!
maio da vida, da luz, das flores
maio sem medos
maio das cores
coloria de sorrisos exaltantes de alegria
aquele dia
em que o meu ventre se abriu
por entre o mar dos meus olhos
com a música da vida a amanhecer pura
num sopro divino
para nascer o meu lírio.

 ...
Manuela Barroso( Gerês)  e Teresa Gonçalves ( Maia)-in “Laços-Dueto” – Editora Versbrava

domingo, 29 de abril de 2018

Poetrix


 Chistian Schloe


O vento espreguiçava-se no ar.
A seara dos teus cabelos
eram ondas no meu mar.

                                
Manuela Barroso  "Poetrix -zando"


sexta-feira, 20 de abril de 2018

Informação



Meus queridos amigos e amigas,
Aperceberam-se da minha ausência
com vindas e recuos.
Fui visitada por uma gripe insidiosa
que culminou numa pneumonia.
Peço desculpa por não ter podido corresponder
às vossa visitas com palavras que guardo tão fundo
e acho de tanta generosidade!

O Universo me trará com mais energia!
Abraço-vos com muita ternura

Até breve

MBarroso

quinta-feira, 12 de abril de 2018

Era...




Era uma aragem que se bebia
com néctares e aromas;
era um cântico 
que contornava a explosão de flores
num incêndio de mantas de cores.

Inventei uma palavra que louvasse a Terra
desmistificasse as raízes
o ar puro da serra.
Nascia a alegria vadia 
em gritos de pássaros selvagens
naquele pedaço de muro
onde da tristeza, a caligrafia 
aos poucos morria.

                 

Manuela Barroso


domingo, 18 de março de 2018

Ondas


marcia batoni

As ondas das árvores são o balancear da melodia
onde te encontro, num caudal de chilreios desatinados.
A foz é o oásis onde permaneço numa hipnose
tão lúcida!
Cada folha é a nota musical onde repousam
os meus sentidos.
A morada deste corpo consome-se e funde-se
com a terra cravejada de folhas num soalho
feito mortalha, nesta eterna canção a sós.

Pousa em mim , ó deusa do bosque, e rodeia-me
de labirintos de luz.
Entorpece-me com esse relâmpago, onde procuro
um olhar que se perde nas sombras, afogando-se
num sono esquecido.

Fica comigo, deusa, acendamos um fogo que ajude
a pernoitar sob o manto da tua proteção.
Que as labaredas sejam o cálice de brisa quente
acalentando este cansaço abandonado na viagem
que tarda. Volta a adormecer-me antes que ela arda
na cinza da tarde.
Arrasta as violetas do bosque. Quero deleitar-me
com o perfume roxo do coração vertido na sua imagem.
Inunda o vale de insónias para que respire
a  madrugada até à última gota de orvalho.

Quero voltar a adormecer na incandescência do sol,
subir na vertigem das heras, onde se refugia o rouxinol.


Manuela Barroso


domingo, 11 de março de 2018

Invernia






 christine schloe


Chovia a noite na transparência
serena e doce do olhar do orvalho
confidenciando com a melodia  acre
de gotas sonoras.
Na cortina da bruma, ainda mais baça,
bailava o mistério  da invernia sedenta
de fome na procura insaciável da seiva
das palavras.
Nas mãos das árvores desprendem-se 
ocasos nascidos do ventre da terra.

O silêncio nasce no espaço da incerteza
do destino da manhã.
Iluminam-se corpos na caverna da noite
com vazios de ventos, de luzes difusas, 
prolongando-se em nevoeiros inquietos.

E os segredos noturnos dormem nas veias 
agitadas das árvores e no coração das pedras,
abrigadas na glorificação  da beleza
de sombras inquietas.

Manuela Barroso, in “Laços”- Dueto -




domingo, 4 de março de 2018

Quando

 Salvador Dali

Quando eu for um sonho de flores transparentes,
no cais da minha madrugada, arrasta-me na sombra
das tuas águas para um porto florido, no infinito das
minhas noites.
Quero ser o vitral que emoldura os meus tédios,
na verticalidade das suas misteriosas cores,
transportando o seu estranho vulto, numa consciência
ausente onde murcham os jardins, como uma floresta
de silêncios.
E abrir-se-á uma porta por onde entram brisas
que se escondem de mim, perfumando o salão da
minha alma, como grinaldas de primavera, entoando
alegrias orvalhadas, num cortejo de violinos, tecido
pelos teus dedos.
E o teu vulto circunspeto, distante, amorfo e frio,
permanece imóvel, em lábios húmidos que procuram
a sedução no silêncio das horas da tarde, que vão
descendo em cortejo luminoso, em inquietantes
intensidades de entardeceres.
Serei para sempre o pórtico de uma metáfora,
escrita no inconsciente de uma alma sedenta de
sorrisos de estrelas, em cortinados de tédios.
No claustro da minha noite, assoma o nevoeiro
 incógnito, atravessando o cetim das tardes,
com sabor a noite, na saudade do infinito.


Manuela Barroso, “Inquietudes”- Edium Editores, 2014


                                                              
                                                                    














sábado, 10 de fevereiro de 2018

AMA -TE-Video



                                                                                  (Ver em tela cheia)

Não amamos o outro
se não nos amarmos a nós.
Esqueçamos indignações
desfaçamos  nós
e que seja o Amor
a dar lições!

UM BEIJO!

Manuela Barroso

"Ama-te" -reeditado

sábado, 3 de fevereiro de 2018

Acordo...

Acordo
Recordo
Concordo
Com meu despertar, enfim…
Do cacto a flor
Nascida entre escolhos
Brotando de abrolhos!

Num breve deslumbre
Revejo-me assim:
Mistério
Laço
Eco de vida
Odor de jasmim,
Algures no espaço,
Que pernoita em mim!

Paro
Reparo
Enrolo o pensamento
Deambulando pelas memórias
E reflicto por um momento:
Ah! Sou Terra
Sou Ar
Sou Água
Sou Fogo
Sou Tudo
Sou Mundo
Sou de Tudo feita…
Mas nada no fundo!


Manuela Barroso, in “Inquietudes”, Versbrava, 2012

domingo, 14 de janeiro de 2018

Na Planície



 Na planície verde dos sonhos,
as águas correm
com a placidez dos dias esquecidos.

É a única voz que perfuma o pão desta fome de silêncio

Contorno as margens dos sapais e colho hastes de alegria
no bailado leve das ervas.
Prendo-me ao chão, escutando as súplicas das rãs
no murmúrio da linguagem
que salta da pele plana
e quieta dos charcos.
Sigo o vaguear inquieto das libélulas
arrastando consigo
o sono dos nenúfares

Quero vingar-me deste lugar abrigado da noite 
que me oculta a dança suave dos reflexos dos olhos da lua,
sacudir este sal que fulmina os sabores das manhãs quentes e quietas
e agonizar com a felicidade do declínio das tarde limpas
com lumes no horizonte.

Regressarei ao meu vale azul
e pernoitarei com  as asas das estrelas.


Manuela Barroso, "Eu Poético"

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Pingo de chuva



Cada pingo de chuva é uma nota musical que me traz segredos de ti.

deixo que escorra nos sulcos das minhas mãos,
até se solidificarem nos cristais das palavras
que me trazem o teu nome.

deixo que permaneça mudo
como frutos caídos de outono,
despedindo-se da vida,

à espera de um rebanho de larvas.

deixo que flutue na pele silenciosa deste lago
onde as folhas caídas
são penas que contornam seixos noturnos,
no deserto de penedos nus.

e cada pingo de chuva
é um cristal teu, suspenso na noite
mais clara que o breu.

Manuela Barroso, in "Eu Poético"