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terça-feira, 23 de maio de 2017

Quando...


 
 Quando eu for um sonho de flores transparentes
no cais da minha madrugada,
arrasta-me na sombra das tuas águas
para um porto florido
no infinito das minhas noites.
Quero ser o vitral que emoldura os meus tédios,
na verticalidade das suas misteriosas cores,
transportando o seu estranho vulto,
numa consciência ausente
onde murcham os jardins,
como uma floresta de silêncios.
E abrir-se-á uma porta por onde entram brisas
que se escondem de mim,
perfumando o salão da minha alma,
como grinaldas de primavera,
entoando alegrias orvalhadas,
num cortejo de violinos,
tecido pelos teus dedos.

E o teu vulto circunspecto,
distante,
amorfo
e frio,
permanece imóvel,
em lábios húmidos
que procuram a sedução
no silêncio das horas da tarde,
que vão descendo em cortejo luminoso,
de inquietantes intensidades de entardeceres.

Serei para sempre
o pórtico de uma metáfora,
escrita no inconsciente de uma alma
sedenta de sorrisos de estrelas,
em cortinados de tédios,
no claustro da minha noite,
que assoma no nevoeiro incógnito,
atravessando o cetim das tardes,
com sabor a noite, na saudade do infinito!

Manuela Barroso, "Inquietudes"- Edium Editores
Tela- Daria Petrilli



segunda-feira, 15 de maio de 2017

Noite





Escondes no teu silêncio
o frio da escuridão que se
dispersa numa aragem erguida
nos braços da incerteza.
Trazes a chama da saudade
escrita nos olhos da lua
e unes a Terra e o Mar
numa Fusão eterna de Mistério
escondendo-se na espuma do tempo.
És o espelho da Solidão,
a única música que se ouve
na profundidade da tua memória
e onde eu queria divagar.
Entrego-te a harpa deste
Silêncio que guardo como
um sonho que dorme,
inacabado, cansado em meu peito.
Abandono-me  na tua carícia serena
onde a Paz é o Sono que me acorda.
És a fonte que gorgoleja, 
a sombra que refresca o verão quente
das minhas tardes.

E na floresta das tuas sombras,
vibram as imagens do passado,
escritas na saudade errante
que vagueia dentro de mim.


Manuela Barroso, in “Inquietudes”- Edium Editores 2012







quarta-feira, 10 de maio de 2017

Acende as velas



Acende as velas da rua
o torpor silenciou a grafia do luar
Fantasmas de luzes
rastejam
na insónia das pedras
no abandono húmido do pó

É o deserto que guarda agora
os segredos destas ostras
ocas de solidão.
Dormem indefesas nas micas luzidias
em corais de saudade
são as pérolas do chão.

Manuela Barroso, in” Laços- Dueto” Editora Versbrava, 2014



domingo, 7 de maio de 2017

Mãe!








Já não revolves as tuas fotografias, mãe!
As pernas cansadas dos teus 100 e meio 
são o martírio do teu caminhar.
E perdes-te no tempo de menina que ainda
mora em ti.
Dos teus olhos molhados já não vertem lágri-
mas porque a saudade secou as águas onde
agora navegam as tuas recordações. O tempo
foge-me mãe, mas para ti parou no relógio da
tua juventude.
És rodeada de todo e tanto amor mas o aroma
das tuas rosas chama por ti. E paras recordando
a bênção de pétalas que caiam nas cadeiras de
lona onde combinávamos o jantar!
O paradoxo do amor leva-nos para onde tu estás
mesmo caindo com a neve que nos cobre!
E tu ficas longe, pensando nas cercanias do teu
jardim outrora tão florido.
Ai maio, rosas de maio pingando sulfate caído
das videiras!
Ai centeio dos nossos campos semeado de tocas
de  grilos abandonando-se no bailado dos cantares
de grilos  à tardinha!
Eu sei que tudo isso te acompanha, mãe!
Mas , ouve, mãe vai ser já noite também para mim.
Antes que vá, senta-me ao colo de um sorriso teu e
diz que me amas.
Sem ti é já noite.
E eu só quero ver uma estrela: tu, MÃE!



Manuela Barroso, Maio de 2017